Coroas ovais no Triathlon?
As coroas ovais existem há mais de 20 anos, mas sempre foram consideradas uma aberração para a maioria dos ciclistas e triatletas. Seu surgimento foi no mountain bike, e o intuito era reduzir o ponto de menor geração de força, possibilitando uma pedalada mais constante, uma vez que o ponto de maior torque chega mais rapidamente.
Esse tipo de coroa pode aumentar a eficiência da pedalada, mas isso depende da modalidade em questão. As primeiras coroas ovais foram desenvolvidas pela própria Shimano (as chamadas "Biopace"), mas depois foram retiradas do mercado, pois foi percebido que o ganho de watts na pedalada tinha um preço: perda de torque.
Como explica o especialista em bike fit de Triathlon da Retul no Brasil, Felipe Campagnolla, "no moutain bike, a prioridade é sim a geração de torque, maior alavanca de força na redução da cadência. No ciclo de pedalada encontra-se um ângulo de ataque anterior ou próximo a 90 graus e trabalha-se um movimento mais amplo, permitindo maior proveito da força imposta em cada ciclo de pedalada e facilitando a transposição de trechos técnicos e travados onde a manutenção da cadência torna-se impossível." Dadas essas variações, as coroas ovais não fizeram sucesso no off-road.
No ciclismo de estrada, a variação de pedalada é ainda maior, pois pedala-se em montanhas, planos, descidas etc. Há vários ângulos de ataques que são utilizados e as coroas ovais reduzem a versatilidade da transmissão.
Resta então os contrarrelógios e o Triathlon. Apesar dos atletas trabalharem em intensidades diferentes nesses dois tipos de prova, eles possuem uma necessidade em comum: manter o gasto energético e a pedalada constante, ou seja, a ideia é aplicar a mesma quantidade de força durante toda a prova. No caso do Triathlon, a principal preocupação é a redução do desgaste muscular, uma vez que você terá que correr após a etapa do ciclismo.
Com explica Campagnolla, "a questão da cadência é muito pessoal, mas sua posição avançada com ângulo de ataque posterior a 90 graus tende a facilitar a manutenção da cadência e melhorar a distribuição de força, não sendo de grande importância a geração de torque ou um grande braço de alavanca."
Evidente que, se sua cadência é mais baixa, a necessidade de torque é maior e, portanto, as coroas ovais serão menos interessantes. Há modelos nos quais se pode regular o ângulo do pedivela, o que é interessante em uma transição de uma coroa redonda para uma oval.
Mas não se iluda, não existe "almoço grátis". A União Ciclística Internacional (UCI), que costuma ser extremamente rígida com equipamentos fora do padrão, permite o uso das coroas ovais por um motivo: elas não geram watts grátis. O ganho no ciclo da pedalada tem seu custo no aumento do gasto energético. Talvez, em uma prova de contrarrelógio, esse aumento no gasto não seja tão impactante; mas depois de 180km em um Ironman essa pequena diferença possa mudar toda sua prova.
Há poucos estudos científicos sobre o tema. O mais famoso deles foi conduzido por Jeremiah Peiffer e Christopher Abbiss, ambos da Edith Cowan University. No artigo publicado em 2010 intitulado "The Influence of Elliptical Chainrings on 10 km Cycling Time Trial Performance" os autores compararam as coroas ovais com as coroas redondas em um contrarrelógio de 10km. Em todos os testes os atletas não sabiam qual tipo de coroa estavam utilizando. As conclusões foram simples e claras: apesar de algumas mudanças individuais com as coroas ovais (leve aumento de potência e de frequência cardíaca), estatisticamente as diferenças não eram significantes, mesmo se observados os intervalos de 2km dentro de cada contrarrelógio.
Como outros aspectos do Triathlon, a escolha da coroa parece ser algo individual e que tem mais um efeito psicológico do que propriamente físico. As coroas ovais, provavelmente, não vão lhe atrapalhar, mas podem ajudar tornando sua pedalada um pouco mais constante e fazendo você "acreditar" que pode ter um desempenho melhor. Há quem as adore e quem as odeie. Se você está curioso, faça um teste, mas não espere um milagre além daquilo do que você tem treinado. Lembre-se também que muitas equipes profissionais são patrocinadas pelos fabricantes de coroas ovais, então seu uso nem sempre é uma opção para os atletas dessas equipes.
Fonte: Revista Mundo Tri